QUE ESPAÇO PARA A DIVERSIDADE?
Se a construção da Torre de Babel, mais do que uma parábola do orgulho humano que pretende chegar aos céus, é uma imagem que nos fala da denúncia de Deus para com o projeto citadino-militar-imperial que visa homogeneizar todos os povos, para que falem uma só língua e não sejam dispersos pela terra; então, o Pentecostes em Jerusalém parece ser a continuação de Babel.
De facto, Deus, através do Espírito Santo, utiliza as diferentes línguas para comunicar o Evangelho a todos os povos debaixo do céu, como que querendo dizer que o Espírito não visa a supressão das diferenças culturais, de se viver em diversas regiões e de falar línguas diferentes. É o que nos indica o Conselho Pontifício da Cultura: «O Evangelho, e consequentemente a evangelização, não se identificam por certo com a cultura, e são independentes em relação a todas as culturas. E no entanto, o reino que o Evangelho anuncia é vivido por homens profundamente ligados a uma determinada cultura, e a edificação do reino não pode deixar de servir-se de elementos da civilização e das culturas humanas. O Evangelho e a evangelização independentes em relação às culturas, não são necessariamente incompatíveis com elas, mas susceptíveis de as impregnar a todas sem se escravizar a nenhuma delas.» (Para uma Pastoral da Cultura, n. 4).
Mais do que nunca, somos chamados a ser Igreja evangelizando um mundo caracterizado pela diversidade de situações culturais, modeladas por diferentes paradigmas religiosos. Porém, entre religiões antigas, comunidades eclesiais fora da comunhão com a Igreja (como por exemplo o protestantismo), culturas secularizadas, novos movimentos religiosos (tantas vezes sincretistas), e seitas (nascidas em grande parte de pretensas respostas às necessidades das pessoas em busca de cura, de filhos, ou de sucesso económico), exige-se, no diálogo, a consciência da especificidade cristã, que sustenta a afirmação de que Jesus de Nazaré, filho de Maria, e só ele, é o Filho e o Verbo do Pai, e que a Igreja fundada por Cristo subsiste na Igreja Católica.
Que a piedade popular, na medida em que continua a ser uma das maiores expressões de uma verdadeira inculturação da fé, e a paróquia, que se caracteriza como «Igreja que se encontra entre as casas dos homens» (Christifideles Laici, n. 27), sejam verdadeira ocasião para evangelizar na diversidade.