AMOR DE MÃE
Há, acerca do amor, muitos slogans. Mas sobre o amor de mãe há muitos mais. Convencionou-se que todas as grávidas ficam bonitas e luminosas, no olhar. E que não estão nem gordas nem panentas. (Ascendem, unicamente, a uma condição celestial.) Diz-se que uma gravidez será, obrigatoriamente, um «estado interessante». E que uma grávida nunca fica redondinha mas, antes, que traz o «rei na barriga». Convencionou-se que o amor de mãe será um nível avançado do instinto maternal e que, por isso, não há mulher que não exulte com a maternidade. Porque (como, por vezes, se supõe), mais do que ser feliz, todas as mulheres sonham ser mães.
Ora, não é verdade que todas as grávidas fiquem bonitas e luminosas. Não é verdade que tragam o «rei na barriga» e que não se sintam, muitas vezes, ali entre o feio e o desinteressante. E não é verdade que todas as mulheres suspirem por ser mães (sobretudo, em consequência das filhas que foram). E que o amor de mãe seja um topo de gama do amor, ao qual todas as mulheres, movidas por um sexto sentido (que, supostamente, as equipa de base) não deixam de chegar.
É tão difícil o amor de mãe! É tão frágil e tão fugaz, tantas vezes. E tão surpreendente, quando quase nada o faria supor. E é tão sagrado. Sempre! (Eu acho que são os bebés quem melhor é capaz do amor de mãe. Mas não devo dizê-lo. Suponho eu. São eles quem nos resgata para amar à margem da necessidade das palavras. E quem comprova que tudo aquilo que sabíamos sobre o amor, afinal, era verdade. Mas, também acho, que se não fosse o amor de mãe muitas pessoas nunca teriam, nem de longe, uma referência para o seu amor. E se não fosse ele, depois de tantos maltratos que tantas sofreram, ao longo da História, o mundo não se teria movido - por entre todo o mal - para a vida e para a esperança, para a verdade e para o amor. Se a Humanidade cresceu a culpa é das mães. Mesmo que muitas delas suponham valer mais pelos serviços que prestam que pelo seu coração dentro dos gestos.)
Eu acho que a primeira função dum ser humano é ser mãe. Reconheço. Mas também acho que o mundo seria um lugar melhor e mais bonito se cada pessoa fosse capaz (dum pouco mais) do amor de mãe!
Eduardo Sá, Pais&Filhos