RESSURREIÇÃO, OU O ELOGIO DA RURALIDADE
Na cidade já não se deitam à terra grãos de trigo, nem se vêem lagartas dar borboletas, raramente se constata ressurreição. «A serra é agreste, primitiva, mas tem carácter, sem dúvida» (Aquilino Ribeiro, Terras do Demo), vezes sem conta se renova e nos envolve na sua dinâmica pascal!
À serra falta talvez informação, mas abunda cultura; carecem-se os palacianos, mas maturam-se os pensadores (aqui se recolhiam os anciãos romanos para filosofar); esquecem-se os códigos civilizacionais, mas aprende-se autenticidade. Não que a serra seja essa espécie de paraíso perdido onde ainda é possível entrever o homem antes da queda, caracterizado pela vida sadia, pela pureza, ou genuinidade (às vezes parece não dizer de si mais que a rudeza do granito); mas antes o lugar onde a nova criação em Cristo pode (re)começar.
Elogiar a ruralidade na sua relação com a ressurreição é aprender da natureza a necessidade de fazer da rudeza da vida (tantas vezes uma autêntica via-sacra) a ocasião de uma nova Páscoa. É fazer da ressurreição um dos mais belos e delicados aspectos da primavera, da nossa vida, mas também da cruz de Cristo.