«QUE CRISTO SEJA FORMADO EM VÓS» (Gal 4, 19)
“As pessoas já não se confessam…”; “Eu não mato nem roubo, por isso, Senhor padre, eu tenho pecados…”; “Eu só me confesso a Deus!”; “Já nem me lembro do acto de contrição…”. Estas e outras expressões, quer do lado dos confessores, quer do lado dos penitentes, traduzem muitas vezes o desconforto e o desconhecimento para com este que é chamado o Sacramento da Penitência, do Perdão, ou da Reconciliação.
Com efeito, este Sacramento precisa, mais do que nunca, de deixar de ser visto e vivido (como outras coisas na vida cristã) enquanto rotina ou tradição, para começar a ser uma urgência de amor: «o amor de Cristo nos constrange, considerando que, se um só morreu por todos, logo todos morreram. Sim, ele morreu por todos, a fim de que os que vivem já não vivam para si, mas para aquele que por eles morreu e ressurgiu» (2 Cor 5,14-15). A urgência de quem se descobre infinitamente amado e de quem, por isso, quer corresponder com a vida a esse amor.
Na verdade, só quando aprofundarmos o significado do amor de Deus, é que também recuperaremos o sentido do pecado e das imperfeições como obstáculos ao verdadeiro amor. Visto nesta lógica, o Sacramento da Reconciliação não se prende em primeiro lugar com o facto de termos muitos ou poucos pecados, nem tão pouco com a sua qualidade, mas com o facto de por menos pecados que tenhamos sermos capazes da verdade do seu reconhecimento e da humildade de pedir por eles perdão. É da boca de um ministro da Igreja que este perdão nos é assegurado da parte de Deus e, por isso, é apenas por ele que a paz de um coração unificado pode ser uma realidade em nós.
“Meu Deus, porque sois tão bom, tenho muita pena de Vos ter ofendido. Ajudai-me a não tornar a pecar!”. Que, nesta Quaresma, este seja o eco de quem sentiu a urgência de deixar «formar Cristo» (Gal 4,19) no seu coração.